terça-feira, 4 de dezembro de 2007

desabafo sem métrica I


porque "what sarah said" me faz chorar. e eu coloco pra tocar vezes sem conta. chorar por dentro, é claro. sabe-se muito bem que as lágrimas da tayná já evaporaram-se todas quando os seus olhinhos ficaram tão tão inchados e encharcados que as nuvens tiveram pena e nem choveram mais. nem precisava, eu acho. acontece que os dias acontecem desabando assim. e tem dias em que eu acordo meio não-sei, sabe? aí dói. dói alguma coisa que eu não sei o que é e nem quero saber, na verdade. eu tenho medo. medo mesmo. não aquele medinho de começo de inverno e término de verão. medo de que aconteça tudo de novo e eu me perca tentando achar a flor preferida de alguém. porque esse bosque é escuro e denso e as árvores têm rostos feios e vozes medonhas. e ah, tem também o medo de tudo que eu ainda não vivi, das dores que eu não sei se existem ou eu inventei. e há dias em que eu invento as dores, pra me sentir menos só. porque as dores fazem companhia, se você não sabe. antes mal acompanhado do que só. mas eu nem me sinto mais só assim. na verdade, me sinto bem completa. então, porque, meu deus, porque ainda dói assim vezenquando? isso aqui não é um texto pra ser bonito nem a song to say goodbye, mas um desabafo. porque eu tô precisando conversar mas parece que esqueci como é que se abre a caixinha do peito e expulsa a angústia sanguessuga. sabe "play me a sad song, cause that's what i wanna hear"? então, bem assim. porque é que as coisas tristes são tão bonitas? como cat power, por exemplo. sim, eu sei, cat power é um ÓTIMO exemplo. eu repito, as coisas são tão tristes que acabam por ser lindas. o mundo é triste, com o seu câncer e sua baixa auto-estima, por isso é lindo. i wish i could eat your cancer. eu queria muito mesmo não querer mais nada. mas há sempre a sede. e podem me dar pão, água, vinho, carne, mas eu vou sempre querer a fome. então a falta faz bem, tayná? se eu soubesse de que falta estamos falando. porque eu sinto falta. e é como o conto do Rubem Alves, que você sabe, explica que é errado sentir isso. ou ao menos foi isso que eu entendi e me fez chorar tanto naquele dia. ah, hoje teve a palestra do Rubem Alves e eu não pude entrar. fui lá pra ir no banheiro e ouvi ele recitando algo como 'cheirar... cheirar...' e achei tão bonito o jeito que ele falava, como se estivesse realmente cheirando o corpo da amada devido a insônia que se tem por querer vê-la dormir e imaginar o que ela sonha. mesmo que o poema não tenha nada a ver com isso, foi o que eu senti. e os cheiros que eu inventei me trazem lembranças tão tristes. por isso passei a não gostar de lembranças. alguém tem alzheimer pra vender? mas nem é isso. nem é isso. acho que dói estar feliz. é, acho que é isso. isso isso isso isso. repito isso quantas vezes eu quiser e vá longe com as suas regras gramaticais. porque o amor foi feito com um adeus no lado, não foi? é o que se ganha de brinde. e nossa, isso assusta. eu tentei, juro que tentei fechar o coração de pano com todas as chaves que eu tinha, jogando fora naquele rio que passa pela cidade e é tão barrento. porque eu não queria, não queria morrer de novo. mas a tayná foi feita pra morrer de amores, não foi? já dizia o Eric : "amada amiga, foste feita pelas mãos delicadas de afrodite que concebeu-te os olhos cheios de dor e um coração vasto, onde só repousasse o corpo do amor, para que para sempre, sofresses de um deleite dolorido". ou quem sabe Caio, no seu "colorido-dolorido". na verdade, nem sei se o Eric disse isso, com essas palavras. as dele eram mais bonitas. as coisas do Eric sempre são mais bonitas. mas a Priscila o proibiu de falar comigo e agora ando com a alma separada de mim. então, hoje eu encontrei o Rodolfo. eu sabia que ia encontrar o Rodolfo. eu gosto como soa o nome dele. ro-dol-fo. e o abraço dele me compra todas as horas de agonia. é como se os seus braços e ombros e tronco tivessem uma voz própria que diz, com um som de caixinha de música por trás, que vai ficar tudo bem. e eu gosto como ele fala tudo certo. então, senhor Rodolfo, trate de conseguir um saco de abraços ou um clonezinho que recite poesia tão bonito, fale certinho e tenha o mesmo abraço confortador. e não importa se for só uma projeção. já vivi de projeções por tanto tempo mesmo. love is watching someone die. gosto dessa frase. gosto muito. como gosto também de 'a la folie, mon amour' ou 'um desgraça, meu amor' ou 'love you forever but you're driving me insane'. sim, todas têm amor no meio. e eu também.

Um comentário:

Padmei disse...

pensei... os desabafos são pra isso mesmo, não é? aliviar um pouco o que já não cabe dentro de nós. àqueles que nos amam cabe apenas acolher o desabafo, escutar com atenção, "e a proteção não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou até mesmo de aflição". então saiba, apenas, tenho sentidos, os seis, prontos como o infinito lago para que desagues teus sentimentos. com finas teias de aranha, vou te coser uma linda sacola e encher de abraços que diluam tua agonia até a quase inexistência em meio a tanta paz, que eu não tenho, mas me dôas na tua simples presença e te devolvo. simbiose. so whos gonna watch you die? porque todas têm amor. e nós também.