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são, talvez, as minhas mãos perdidas no que eu esqueci de dizer. eu não queria deixar de respirar no momento que você me pediu pra ficar. mas eu precisava ir. e os múrmurios do vento me diziam mais que a tua voz insistia em gritar. eu não ouvia, eu estava surda pro mundo e só sentia o toque do único fio que se desprendera do meu coro cabeludo e tocava, levemente, as minhas costas, me fazendo arrepiar os pêlos todos. aquele calafrio. tu podias sentir ciúmes do calafrio, eu sentiria. e todas as pessoas lá foram caminhavam para um outro lugar, um lugar que querias ir e de onde eu fugia. elas olhavam para um ponto fixo no céu e eu, ai, eu olhava para um ponto fixo nos teus olhos que não estavam turvos. os teus olhos estavam secos e os meus, os meus já eram só água. os meus não eram mais olhos, os meus eram mar e ardiam. os meus dentes batiam uns nos outros, como se quisessem beijar-se. meus dentes queriam beijar-se de medo. eu tenho medo que meus dentes vivam sozinhos na sua imensidão branca, meio amarelada. porque eles têm frio e os teus vivem abertos ao mundo, enquanto os meus ficam guardados, bem guardados na sua casa gelatinosa de gengivas e salivas e lábios. o meu coração canta algo como uma melodia fraca, batidas doentes que se perdem porque não escutas. se eu pudesse fazer com que escutasses, talvez não tivesses tanto medo. é doente, são batidas doentes. mas o que é mais saboroso do que a tentativa derradeira de um coração doente de fazer com que escutem a sua batida pequena? se conseguisses escutar o coração, escutarias os ossos dos meus dedos que tremem. as minhas veias que se contraem. o sangue que circula vagarosamente. as pálpebras que abrem e fecham. o ar, que entra e sai. a voz, que quase não sai. acima de tudo,se escutasses o coração, saberias como é ser eu.