sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008


[ a foto do Eric é só ilustração]


eu tenho saudade dos cheiros
aos quais nunca cheguei perto.
como o cheiro de uma orquídea fantasma
que aparece naquele filme,
'adaptação'.
que me faz pensar que é sempre assim,
não é?
a gente faz as coisas
desfaz
faz de novo
e, a todo tempo,
tem que tá se adaptando.
eu não gosto disso.
não gosto mesmo.
não gosto de me adaptar com a falta que fazes.
e de como eu tenho que guardar em mim, isso.
porque não se pode gritar, porque?
você não me deixa gritar.
você não me deixa gritar.
e as minhas cordas vocais são de ferro,
imagine!
vão enferrujar,
vão enferrujar
e eu não vou conseguir dizer mais nada
nem quando você quiser.
eu quero ficar sozinha.
por favor, me deixa sozinha.
aí você vai e me deixa sozinha.
mas não entende.
você não entende nada.
não entende que quando eu digo 'eu te odeio'
quero dizer 'eu te amo'.
quando eu digo 'me deixa'
quero dizer 'vem, me abraça por trás e diz que vai ficar tudo bem'
quando eu digo 'tô bem, e tu?'
quero dizer 'tô muito mal e não me interessa muito como estejas agora, porque não tá pior que eu'
e mais, quando eu digo que não me importo com como você esteja,
é mentira,
eu me importo mais que comigo mesma.
você não me conhece,
desculpa.

Nenhum comentário: