quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

o gosto meu.



são, talvez, as minhas mãos perdidas no que eu esqueci de dizer. eu não queria deixar de respirar no momento que você me pediu pra ficar. mas eu precisava ir. e os múrmurios do vento me diziam mais que a tua voz insistia em gritar. eu não ouvia, eu estava surda pro mundo e só sentia o toque do único fio que se desprendera do meu coro cabeludo e tocava, levemente, as minhas costas, me fazendo arrepiar os pêlos todos. aquele calafrio. tu podias sentir ciúmes do calafrio, eu sentiria. e todas as pessoas lá foram caminhavam para um outro lugar, um lugar que querias ir e de onde eu fugia. elas olhavam para um ponto fixo no céu e eu, ai, eu olhava para um ponto fixo nos teus olhos que não estavam turvos. os teus olhos estavam secos e os meus, os meus já eram só água. os meus não eram mais olhos, os meus eram mar e ardiam. os meus dentes batiam uns nos outros, como se quisessem beijar-se. meus dentes queriam beijar-se de medo. eu tenho medo que meus dentes vivam sozinhos na sua imensidão branca, meio amarelada. porque eles têm frio e os teus vivem abertos ao mundo, enquanto os meus ficam guardados, bem guardados na sua casa gelatinosa de gengivas e salivas e lábios. o meu coração canta algo como uma melodia fraca, batidas doentes que se perdem porque não escutas. se eu pudesse fazer com que escutasses, talvez não tivesses tanto medo. é doente, são batidas doentes. mas o que é mais saboroso do que a tentativa derradeira de um coração doente de fazer com que escutem a sua batida pequena? se conseguisses escutar o coração, escutarias os ossos dos meus dedos que tremem. as minhas veias que se contraem. o sangue que circula vagarosamente. as pálpebras que abrem e fecham. o ar, que entra e sai. a voz, que quase não sai. acima de tudo,se escutasses o coração, saberias como é ser eu.

4 comentários:

Salve Jorge disse...

O gosto seu
É grosso
Quase como um poço
Onde se lava o rosto
Com lágrimas que um Deus verteu
Pois és tão humana
Que a tua trama
Compõe mitologias
Caledoscópicas
Como o teu branco totalizante
É que foste errante
Antes
Quando as semânticas eram tortas
A cada passo haviam portas
E as letras não jaziam mortas
Como se fosse derrota
Esse medo
Esse tremer
Que escuto
E inicia o escorbuto
Que sela meus lábios
Pois se já fomos sábios
Hoje sabemos não falar
Mas falhar
Carregamos nos farfalhar
Dessas asas sangradas...

poeta quebrado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
poeta quebrado disse...

carry this picture for luck
kept in a locket
tucked in your collar
close to your chest
make it a secret
shown to the closest friends

meet me at quarter to seven
the sun will still shine then
at this time of year
we'll head to the inlet
and we'll share a bottle there

and down to the edge of the water
where we'll spill our guts
and we'll name our fears
i'll give you this picture
keep it and don't be scared

Anônimo disse...

'Se escutasses o coração, saberia como é ser eu'.

Frase tocante!

Adorei a intensidade de tudo aqui.

beijoos.