segunda-feira, 17 de março de 2008

cotidiano.


eu queria que me visses agora.
hoje, eu queria que tivesses pena de mim,
hoje, só hoje, eu queria que chorasse tuas lágrimas
em cima das minhas
e que misturasse o teu gosto salgado
com o gosto de mar salgado
delicado,
meu.

amanhã, quererei eu que me esqueças
e que não me perguntes como estou
que sorrias pra todos na rua
e não te perguntes como eu vou
voltar para casa.

mas ontem, amor
ontem eu quis que tu me colocasses num altar
e não sentisses pena
e não me esquecesses
eu só queria que me exaltasses
como eu fiz e faço
como eu sorrio e abraço
todos os teus traços, erros, medos, gritos
todas as vezes.

Um comentário:

Salve Jorge disse...

Nesse cotidiano
Em meio ao mundano
É esse seu jeito insano
Que imprime sentido
Que entorpece o poderia ter sido
Que desvirtua o que já foi ungido
Enquanto o sal arde nas feridas
Ao mesmo tempo que as limpa

E tudo que eu queria era te ver
Suas asas lamber
E lembrá-la que tuas lágrimas
São o rio da minha fábula
E todas essas rimas
São pra mostrar que não esqueço
Essa imbricação é o preço
De sermos do avesso
Inquietos com as rasas tábulas
Desde o começo

Eu cavei todo um oceano
Fiz côncavo
O que antes era plano
Só pra caber o nosso mar
Onde me lavo
Sempre foste meu altar
Onde venho me sacrificar
Onde a adaga no peito cravo
E te exalto
Te exalo
És algo tão em mim
Que sequer posso definir...